16 de maio de 2023, 10:55
Bombeiras comemoram o Dia Internacional da Mulher
Publicada em 08/03/2018
A sargento BM Gilvaneide Neves acorda por volta das 5h30, deixa o filho mais novo na escola e segue para o quartel central do Corpo de Bombeiros, para mais um serviço de plantão. Chega ao local de trabalho, coloca a farda e segue para render os plantonistas do dia anterior. Confere a viatura, verifica se os equipamentos estão funcionando corretamente e fica pronta para atender qualquer ocorrência. Há quase 16 anos ela segue esta rotina, que se repete a cada 4 dias, sendo que, no início da carreira, isso se dava com o filho mais velho, que hoje já está na faculdade. Formada em Enfermagem, ela atua na área de atendimento pré-hospitalar. Faz isso desde que ingressou na corporação.
“É gratificante trabalhar salvando vidas de pessoas que você nem sequer conhece. Por mais que nós, bombeiras, façamos nossa missão com agilidade, sem perder o foco, estamos sempre trabalhando com o coração. Sofremos por ver uma criança machucada, por exemplo. Quantas vezes choramos na volta de uma ocorrência difícil? Essa tripla jornada: de profissional, mãe e dona de casa mostra o quanto forte nós mulheres somos. Estamos conquistando nosso espaço”, ressalta Gilvaneide.
Gil, como é mais conhecida, é uma das 67 mulheres que atuam no Corpo de Bombeiros Militar de Sergipe (CBMSE) – que representam 12,3% do total do efetivo da corporação. Ela e as demais companheiras de trabalho contribuem, com garra, força e dedicação, para engrandecer o nome da instituição. Distribuídas em todas as atividades de bombeiro, tais como combate a incêndio, resgate e salvamento, as mulheres do CBMSE atuam com protagonismo em diversas ações. Neste 08 de março, em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, as bombeiras reforçam a importância de alcançar a igualdade de gênero, empoderar as profissionais de segurança pública do sexo feminino e se construir uma sociedade livre de preconceitos e discriminações.
Para a sargento BM Gilvamária Figueiroa, que é militar há 21 anos, tendo ingressado primeiramente na Polícia Militar de Sergipe e migrado para o Corpo de Bombeiros, a adaptação ao militarismo não foi difícil, pois foi criada pela família com grande disciplina, mas revela que teve que enfrentar o machismo que ainda persiste no ambiente militar. “Comecei na Polícia Militar, mas em 2000, depois da desvinculação, eu consegui migrar para o Corpo de Bombeiros. Meu irmão, que era bombeiro, foi quem me convenceu a mudar de instituição, pois a princípio eu não tinha a intenção de deixar a PM. O problema é a mentalidade que alguns homens ainda têm em relação a nós, mulheres. Afinal, não se pode comparar a força física de um homem com a da mulher. Por isso, temos nossas próprias táticas para desenvolver os serviços, mas obtemos os mesmos resultados, concluindo-os com sucesso”, ressalta.
Ao contrário de Gilvamária, a sargento BM Kadja dos Santos admite que a transição da vida civil para a militar foi um choque, mas, com o passar do tempo, acabou se acostumando à rotina militar. “Sofri um pouco para me adequar às normas do militarismo, principalmente por ser muito questionadora. Entrei na corporação em 2002. Quando fiz o concurso, não tinha ideia do que o bombeiro fazia, nem sequer li o edital da prova, mas fui aprovada e ingressei na corporação. Apesar da descrença de algumas pessoas da família, que falaram que eu não aguentaria o meio militar”, diz.
Apesar do impacto inicial, Kadja conta que nunca passou por situações constrangedoras por ser mulher no ambiente militar. “Acho que o importante é você aprender a fazer o seu serviço da melhor forma possível, independente de ser homem ou mulher. Claro que, biologicamente falando, a força do homem para desempenhar determinadas tarefas é maior que a da mulher, mas todos nós temos habilidades”, explica.
Já a sargento BM Ana Paula Ribeiro, que atua como condutora das viaturas de combate a incêndio, busca e salvamento, diz que chegou a ouvir comentários machistas no início de suas atividades, mas que, com o passar dos anos, ao mostrar seu serviço, isso foi mudando, passando a ser mais elogiada do que criticada. “Entrei para a corporação em 2008 e não tive grandes dificuldades em me adaptar à rotina militar. Mas passei por situações de machismo, sobretudo por conta da minha função de motorista. Acontecia de ouvir típicas piadinhas, como: mulher no volante é perigo constante. Mas, com o tempo e com o cotidiano do serviço, eles passaram a me dar valor, elogiando mais do que criticando”.
A sargento BM Sheila Matos, saxofonista da Banda de Música do CBMSE, também admite que já passou por situações envolvendo machismo, mas driblou o problema com muito profissionalismo, chegando a ser condecorada, em 2015, com a medalha de honra músico-militar, uma homenagem do Exército Brasileiro concedida a alguns músicos do Brasil que fazem a diferença.
“Entrei na corporação em 2002. O processo de admissão para a banda foi um concurso específico. Teve o concurso para combatente e outro para a banda. O detalhe é que a prova não distinguia se era masculino ou feminino. Eu fui para a vaga do saxofone independente do sexo, o que para mim foi uma grande conquista. Este foi o primeiro concurso público no Nordeste nesta área que contratou uma mulher. Eu e a sargento Joangellys fomos as primeiras mulheres militares em uma banda, aprovadas por concurso. Como passei em 7º lugar no concurso, os homens questionavam como era possível. Passei vários anos estudando música, dos 13 aos 27 anos de idade. Hoje faço graduação em música na UFS (Universidade Federal de Sergipe)”, diz Sheila.
De acordo com a tenente BM Adriana Passos, que trabalha na análise de projetos de segurança contra incêndio, na Diretoria de Atividades Técnicas (DAT), antigamente, as instituições militares não eram estruturadas de forma a receberem as mulheres em seu quadro de servidores. “No CBMSE, entrei em 2005, mas já trabalhava na Polícia Militar desde 1993. Na época, eu era sargento da PM. Houve o concurso para o Corpo de Bombeiros e acabei sendo aprovada. Já passei por situações de machismo no ambiente militar. O assédio e a discriminação eram corriqueiros, principalmente por fazer parte do primeiro pelotão feminino de soldados. A corporação não tinha sequer adequação referente a alojamento ou banheiro feminino”.
A primeira mulher a ocupar o cargo de tenente-coronel no CBMSE, Maria Souza, ingressou na corporação em 2001, por meio do Curso de Formação de Oficiais (CFO). Antes disso, ela já tinha sido soldado e cabo na Polícia Militar. Ela diz que a transição da vida civil para a militar foi um choque, mas que, passada essa fase inicial, foi a melhor coisa que aconteceu na vida dela. “Entrei no mundo militar por acaso. Foi a vida que foi me encaminhando. Não tinha noção do que era militarismo. Estava na universidade e desejava um emprego. Foi quando surgiu a oportunidade de prestar o concurso público. Estudava Engenharia e, no começo, não pretendia me fixar na carreira militar, mas acabei me apaixonando por esse universo e nunca mais quis sair. Me identifiquei muito com a instituição e com as atividades. É a minha profissão. Sinto-me muito satisfeita e feliz por estar aqui”, explica.
A tenente-coronel Maria salienta que a situação da mulher nas instituições militares ainda é delicada e que é preciso uma luta contínua e diária contra o machismo. “Não tão delicada quanto a (situação) das primeiras gerações de mulheres militares, mas ainda é. Somos diferentes porque temos outra condição física. A grande parte dos quadros das instituições é masculina, então você já é uma minoria. Houve sim alguns momentos difíceis, mas particularmente, para mim, não tanto, pois passei um tempo como praça e depois como oficial. Muitas pessoas que poderiam ter uma atitude machista acabaram se refreando pela minha função e hierarquia. Mas ainda que, numa proporção menor, percebi sim uma diferenciação. Você tem sempre que provar que você merece estar aqui e que precisa de um espaço. Então é uma luta. Hoje, uma luta mais tranquila”.
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